Barras de ouro (séc. XVIII – Minas Gerais)
Como tudo começou…
Não é possível traçar os rumos da história mundial do ouro sem falar do “Ciclo do Ouro” brasileiro. Este período, muito bem definido na história brasileira, iniciou-se em 1695 e findou por volta de 1800, quando o ouro passou a ocupar um plano secundário na economia nacional. Durante este período, a produção mundial de ouro foi de 1.421 toneladas métricas, tendo a capitania de Minas Gerais, praticamente Ouro Preto e Mariana, contribuído com 700 toneladas, ou seja, 50% do ouro produzido no período.
Lavagem de ouro de Itacolomi (século XIX). Gravura de Johann Moritz Rugendas.
A interiorização do Brasil iniciou-se com a procura de riquezas, principalmente ouro, esmeraldas e brilhantes, que os homens da época julgavam existir naquela tão bela e promissora terra. Organizados em grupos denominados bandeirantes, eles entregavam-se de corpo e alma à procura dos metais e das pedras preciosas, embrenhando-se pelos sertões. Nos fins do séc. XVII, por volta de 1695, uma dessa bandeiras, comandada por Manoel Garcia Velho, encontra no Tripuí, a algumas léguas de Ouro Preto, uma série de granitos cor de aço, que mais tarde, quando examinados, verificaram tratar-se de finíssimo ouro. A notícia espalhou-se por toda a parte da colônia e a partir de 1697 se estabeleceu um “rush”, que se avolumou nos anos subsequentes.
Em 1680, o bandeirante João Lopes de Lima manifestava as jazidas de cascalho de N. Sra. do Bom Sucesso e, em 1702, dava-se conhecimento do sumidouro de Mariana. Durante este período se instalaram dois grupos mineiros, que viriam a constituir as povoações de Mariana e Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto. Apesar da pouca distância que as separava, ignoraram-se por longo tempo. Porém, as águas turvas do Ribeirão do Carmo mostravam para os habitantes de Mariana que, rio acima existia uma outra cidade. Na ânsia de manter contato com elementos civilizados, subiram o Ribeirão do Carmo. Em 1719 surgia então a Vila da Passagem, entre as duas cidades. Durante essa época, os mineiros que iam subindo o rio bateando os depósitos aluvionares, descobriram o ouro primário de Passagem.
Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855), também conhecido por barão de Eschwege, foi um geólogo, geógrafo, arquiteto e metalurgista alemão. Foi contratado pela coroa portuguesa para proceder ao estudo do potencial mineiro do país, notabilizando-se pela realização da primeira exploração geológica de carácter científico feita no país.
Fonte: Wikipedia.
Com a descoberta e abundância do ouro, no período de 1729 a 1756 fluiu para a área um grande número de elementos que passaram a explorar as jazidas concentradas no morro de Santo Antônio. Os trabalhos eram realizados a céu aberto e/ou por meio de pequenos serviços subterrâneos que, geralmente, paravam quando era atingido o lençol freático. Lavrava-se e recuperava-se, então, apenas o ouro contido nos itabiritos, na jacutinga e na canga ferro-aurífera. A mão de obra era totalmente escrava e estima-se que, em certa época, cerca de 35 mil escravos povoaram as senzalas do morro Santo Antônio.
Data do séc. XVIII a descoberta do ouro em Passagem. Os bandeirantes percorreram os veios d’àgua da bacia do rio Doce e atingiram o Ribeirão do Carmo, no qual localizaram ouro aluvionar abundante. Subindo o ribeirão, em típica prospecção por bateia, descobriram em 1719 as jazidas primárias de Passagem. De 1729 a 1756 vários mineiros obtiveram concessões para a exploração das jazidas. Com o passar dos anos, reduziram-se a poucos proprietários, os quais transferiram a mina, a 12 de março de 1819, ao barão von Eschwege.
Acesso mais recente da mina, aberto em 1937.
Os trabalhos até então se concentravam no morro Santo Antônio e eram executados por mão de obra servil, a céu aberto ou mediante pequenos serviços subterrâneos. Recuperava-se o ouro contido nos itabiritos, na jacutinga e nas cangas ferro-aurífera. As ruínas ainda existentes testemunham este remoto passado. Eschwege formou a primeira empresa mineradora do Brasil, sob o nome de Sociedade Mineralógica de Passagem. Construiu o engenho, com dez pilões californianos, e estabeleceu o primeiro plano de lavra subterrânea. Somente após o ano de 1800 é que se descobriu ouro nos quartzitos, nos xistos grafitosos e nos dolomitos, dando novo rumo a exploração das jazidas.
Após anos de prosperidade, o barão von Eschwege, atraído por novas atividades na pioneira siderurgia, desinteressou-se da mineração de ouro. Os direitos minerários da Mina da Passagem passaram, a 1o de junho de 1859, às mãos do inglês Thomas Bawden que constituiu a Anglo Brazilian Gold Mining Company, uma sociedade de propósito específico, juntamente com o também experiente inglês da Cornualha, capitão Thomas Treloar. Esta empresa adquiriu diversas concessões vizinhas, como Paredão e Mata Cavalos, e trabalhou nas jazidas de 1864 à 1873, produzindo 753.501 gramas de ouro ao teor médio de 6.89 gramas por tonelada de minério. Em 26 de novembro de 1873, a Anglo Brazilian Gold foi encampada pela The Ouro Preto Gold Mines of Brazil Limited.
A nova empresa operou com grande sucesso até março de 1927, quando foi vendida ao grupo Ferreira Guimarães (banqueiros de Minas Gerais), em maio do mesmo ano. Foi constituída assim a atual Companhia Minas da Passagem, que operou regularmente até 1954. A conjuntura inflacionária, a falta de capital, o preço irreal do ouro (fixado em 35 dólares a onça-troy) e a obrigatoriedade de toda a produção ser vendida ao Banco do Brasil tornavam a lavra economicamente inviável.
Em outubro de 1976 a Cia. Minas da Passagem foi adquirida pelo atual grupo controlador, que diversificou os negócios da empresa. Uma das novas atividades criadas foi a visitação turística à Mina do Fundão (parte do complexo mineiro conhecido como Minas da Passagem), em 1979, revelando-se um sucesso e funcionando ininterruptamente até a data presente.